21 de março de 2006

«Munique» («Munich», 2005), de Steven Spielberg


Mais uma proeza de Spielberg, é incontornável afirmá-lo. Um filme definitivo sobre a violência de génese política é aquilo que «Munique» é, mas é também um thriller elegante, emocionante e assente num prazer puramente cinematográfico que começa na magnífica reconstituição de época e alarga-se até aos jogos de referências cinéfilas, não esquecendo os momentos em que os actores são tudo. Que a moral subjacente à lógica «violência gera violência» é politicamente correcta, isso é indiscutível, mas o que é de mestre aqui (como tem de ser em qualquer objecto cinematográfico que se queira excelente) é a forma como a história é contada e encenada, conduzindo-nos a uma constatação que não é filosófica, apenas orgânica.
Parte-se de um momento histórico bem determinado para reflectir sobre este tema tão complexo quanto trágico, mas isso é apenas um pretexto para falar da actualidade e do ridículo fatalista que não se consegue afastar dos clássicos e contemporâneos conflitos entre povos ou nações. A queda inexorável de Avner (Eric Bana no cume da sua carreira) na perdição da morte e da ausência de coordenadas é uma fabulosa metáfora para as sociedades contemporâneas divididas entre as supostas (fortes) convicções e as (fracas) acções.
A imbricação entre o lado mais teatral e dramático das linhas de Tony Kushner e a dimensão visual da câmara de Spielberg resultou perfeita e gerou sequências que ficarão certamente para a posteridade. É ainda mais um exemplo de que Spielberg tem vindo nos últimos anos a inovar no interior do sua obra, a mostrar sinais de maior pessimismo, mas nunca abdicando de gerar emoções fortes nos espectadores. Nem vale a pena falar na inteligência da sua perspectiva, nem do afastamento de ideias panfletárias ou de quaisquer veleidades de unanimismo. «Munique» é acima de tudo uma obra-prima cinematográfica para rever sempre. Um filme triste, doloroso, melancólico, que ecoa fundo da insondável condição humana. E até me esquecia de falar nas superlativas banda sonora, fotografia, montagem, etc., etc.

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