5 de novembro de 2013

Antes da Meia-Noite (Before Midnight, 2013), de Richard Linklater



Após «Before Sunset» (1995) e «Before Sunrise» (2004), regressamos à história de Jesse (Ethan Hawke) e Céline (Julie Delpy). Agora nos 40, o casal vai voltar a confrontar-se e a colocar o amor à prova, desta vez em férias na Grécia. Este terceiro andamento da história iniciada em Viena é o mais perturbador, desde logo porque a implacável passagem do tempo traz angústias, rugas, desilusões e dessintonias. Mas eles continuam os mesmos e teimam romanticamente em não desistir um do outro. Com diálogos hiper-realistas, vamos assistindo a situações que espelham na perfeição o que é o masculino-feminino e como as relações num casal tanto se antagonizam como se (re)conciliam. Céline revela-se bela, inteligente e docemente sarcástica, mas também egoísta, intratável e eternamente insatisfeita. Jesse, por seu lado, mostra imaturidade, narcisismo e primarismo, mas também preocupação, sensibilidade e uma quase comovente devoção à sua amada.
O que é mais incrível neste filme é a forma como consegue desconstruir o conto de fadas romântico, ao mesmo tempo que mostra como ele é necessário e, até, possível. Uma quimera que se esconde e se mostra no rosto da pessoa amada, que está mesmo ali, tão perto e tão longe. Cada diálogo encena essa procura e esse mistério.
A sequência no quarto de hotel é uma das melhores do cinema recente ao nível da dissecação da vida a dois. E é impossível, para alguém na mesma faixa etária, não se rever (a si e ao seu parceiro) nesta história tão sedutora quanto assustadora. Tal como na (nossa) vida, queremos tanto que tudo dê certo.