13 de abril de 2005

«Saraband» (2003), de Ingmar Bergman

Ingmar Bergman é indiscutivelmente um nome maior da cinematografia mundial. É um daquele artistas ímpares, que consegue criar algo que mais ninguém consegue igualar: os grandes planos dos rostos dos seus actores são autênticos mapas emocionais que causam comoção funda na alma do espectador por serem uma espécie de ligação directa à alma da personagem. As suas reflexões penumbrosas pelos meandros da condição humana são, pois, monumentos na história da sétima arte.
Trata-se, portanto, de um privilégio poder assistir a mais uma obra deste artista já velho e que não realizava filmes há mais de duas décadas.
«Saraband» é comovente e espelha as principais obsessões presentes ao longo da sua obra, ou seja, é fiel à marca autoral. História(s) de família, das suas mágoas, medos, ódios e afectos, «Saraband» é um requiem sobre a solidão irredutível de todos os seres.
Mesmo que lhe falte o empolgamento das grandes histórias, só pelos retratos íntimos bergmanianos que fazem do actor a verdadeira ‘super-estrela’ do filme, já valeria a pena. Atente-se, por fim, na utilização (sublime) da música e na sua ligação umbilical com as circunstâncias que enredam aqueles seres.

8 de abril de 2005

"Mar Adentro" (2004), de Alejandro Aménabar

Se há filmes que mexem fundo nas emoções humanas – neste caso, pela história, as suas implicações morais e a riqueza humana das personagens –, este é indiscutivelmente um deles. A história de Ramón Sampedro é paradoxalmente um belo espelho da defesa da vida através da reivindicação do direito à morte. E se a história (real) é exemplar na maneira como coloca em perspectiva a ética perante a vida, a explanação cinematográfica dessa história tem o mérito de nos implicar com as personagens e, com isso, tornar-nos parte dela.
Fantástica interpretação de Javier Bardem, que faz confluir para o rosto (os olhos e o sorriso – uma outra forma de chorar…) a transmissão total das suas emoções. Mas o elenco feminino é de uma adequação e beleza interior a toda a prova.
Para além do nuclear, que é o trabalho dos actores e os respectivos retratos humanos (é isso que nos sensibiliza), fica na retina o travelling sonhado de Ramón que desemboca na praia – símbolo do sonho como último reduto de vida.
«Mar Adentro» dá-nos um retrato de um ser humano de uma enorme sensibilidade e convicção que passou por uma situação indigna por causa do questionável quadro legal sobre a eutanásia no seu país. Concorde-se ou não com isso, este é um filme obrigatório para reflectir sobre o assunto. Mas é mais do que isso, é uma história perturbante filmada e interpretada com enorme sensibilidade.