26 de janeiro de 2006
«King Kong» (2005), de Peter Jackson
A última aventura de Peter Jackson, o agora todo poderoso da indústria do cinema, é desequilibrada dada a enorme metragem e o excesso de registos que convoca, mas é também um grande espectáculo fílmico que não esquece que as emoções valem por mil efeitos especiais.
Espectacular reconstituição da Nova Iorque dos anos 30, figuração do gorila gigante absolutamente perfeita, grande química entre Kong e Ann Darrow (a belíssima e grande actriz Naomi Watts), lutas épicas entre Kong e os dinossauros, não faltam ingredientes para degustar numa sessão em ecrã o mais gigante possível.
Remake quanto a mim superior ao original de 1933 (um clássico absoluto, mas datado e sem grande fulgor dramático), este «King Kong» vale principalmente pela relação romanticamente triste (e trágica) que encena entre dois seres tão longe e tão perto um do outro. A troca de olhares profundamente magoados entre os dois é digna de uma antologia dos momentos de amor bizarros do cinema, conseguindo um patamar novo de intensidade para o tema clássico da «bela e o monstro».
É verdade que o filme talvez ganhasse em ter menos uns 20 minutos, que a sequência da corrida (e atropelamentos mirabolantes a roçar a comédia involuntária) dos dinossauros é dispensável e que por vezes se notam algumas imperfeições ao nível dos efeitos digitais, mas tudo isso não chega para colocar em causa um dos grandes filmes de aventuras dos tempos mais recentes, que não se limita a entreter, dá-nos também uma trágica e comovente história de amor e solidão.
10 de janeiro de 2006
10 Filmes Mais Esperados de 2006
Esta é uma lista obviamente subjectiva dos filmes que se avizinham e que aguardo com especial interesse. O critério principal é o realizador e, depois, tudo aquilo que é possível saber sobre o projecto (actores, tema e demais aspectos da ficha técnica/artística).
1 – «Munique», de Steven Spielberg
Spielberg a enveredar por caminhos polémicos. Em vez da segurança do cinema industrial (que ele tão bem sabe fazer, embora o transcendendo constantemente pela superior qualidade que lhe imprime), o mestre resolveu matizar um episódio histórico que implica um dos grandes conflitos do nosso tempo, o israelo-palestiniano. Escapando uma vez mais a todos os rótulos que lhe gostam de colar, nem sequer permitiu uma promoção massiva como é habitual nos seus projectos. Mas claro, esta técnica de anti-marketing acaba por ser a melhor forma de marketing… Promete, e de que maneira.
2 – «Inland Empire», de David Lynch
Um filme de David Lynch é sempre um acontecimento. Ou não fosse ele o mais original entre os grandes cineastas (seguido de perto por Cronenberg). Misterioso (melhor, insondável) como habitualmente, aqui Lynch nem sequer tinha um guião definido antes de filmar. Com Jeremy Irons e Laura Dern. Espera-nos mais uma viagem desconcertante…
3 – «Goya’s Ghosts», de Milos Forman
Grande projecto dirigido por um realizador de eleição sobre um artista de eleição. Argumento do grande Jean-Claude Carriére. Elenco com os estupendos Javier Bardem e Natalie Portman (e ainda com Stellan Skarsgard como Goya). O autor do lendário «Voando sobre um ninho de cucos» não costuma desiludir. Co-produzido por Saul Saentz e filmado em Espanha, este é um filme muito prometedor.
4 – «Nada a Esconder», de Michael Haneke
Prémio de realização do último Festival de Cannes. Consagração nos Prémios Europeus de Cinema. De um dos grandes cineastas europeus contemporâneos, autor de «A Pianista» e «Código Desconhecido». Excelentes críticas até agora.
5 – «Youth Without Youth», de Francis Ford Coppola
Regresso à realização de um dos maiores realizadores de sempre, com um projecto simultaneamente modesto e com um gosto renovado por experimentar. A filmar na Europa com um elenco maioritariamente europeu. Aguarda-se com ansiedade.
6 – «The Departed», de Martin Scorsese
Scorsese é Scorsese, logo, o seu próximo filme é obrigatório. É um remake do filme de Hong Kong «Internal Affairs» (2002). Mesmo que não tivesse Jack Nicholson (a fazer de mau) e Leonardo DiCaprio. Mesmo que não tivesse Thelma Schoonmaker (montagem), Michael Ballhaus (fotografia) e Howard Shore (música). Mas tem.
7 – «Zodiac», de David Fincher
Thriller sobre o assassino do Zodíaco, que aterrorizou São Franciso nos anos 60 e 70, nunca tendo sido apanhado. Harris Savides fotografa e Mark Ruffalo, Robert Downey Jr. e Jake Gyllenhaal protagonizam. Ingredientes de sobra para querer revisitar os temas de «Seven» e as técnicas do fabuloso realizador de «Clube de Combate».
8 – «Match Point», de Woody Allen
Dizem que é o melhor filme de Allen em anos. Isso já diz tudo de um dos nomes incontornáveis do cinema mundial, que nunca faz um filme sem interesse ou insosso. Parece que os ares da Europa lhe fizeram bem (filmou em Londres duas vezes seguidas), embora os ares da América nunca lhe tenham feito mal.
9 – «World Trade Center» (título provisório), de Oliver Stone
É com enorme expectativa que aguardamos pela reacção do povo americano à tragédia do 11/09 filtrada pela câmara de Oliver Stone. Este Jim Morrison do cinema actual (excessivo, igualmente amado e odiado) promete muito. Depois do injustamente trucidado «Alexandre», Stone vai mostrar (digo eu) que a sua carreira não acabou.
10 – «Babel», de Alejandro González Iñarritu
O excelente autor de «21 Gramas» continua fiel às suas narrativas cruzadas. Agora o ponto de partida é uma tragédia que afecta um casal em férias. Filmado no Japão, Marrocos e Canadá, com Brad Pitt, Cate Blanchett e Gael García Bernal. Escrito por Guilermo Arriaga e fotografado por Rodrigo Prieto. Esperam-se elevadas doses de dramatismo.
P.S. – Curiosamente, três deste filmes («Caché», «Match Point» e «Munich») estreiam em menos de um mês. Os outros irão surgir bem mais tarde. Saliento também que ainda não estrearam três dos filmes que faziam parte da lista que elaborei no ano passado (e que continuo a aguardar com ansiedade): «The History of Violence», «The New World» e «Manderlay».
1 – «Munique», de Steven Spielberg
Spielberg a enveredar por caminhos polémicos. Em vez da segurança do cinema industrial (que ele tão bem sabe fazer, embora o transcendendo constantemente pela superior qualidade que lhe imprime), o mestre resolveu matizar um episódio histórico que implica um dos grandes conflitos do nosso tempo, o israelo-palestiniano. Escapando uma vez mais a todos os rótulos que lhe gostam de colar, nem sequer permitiu uma promoção massiva como é habitual nos seus projectos. Mas claro, esta técnica de anti-marketing acaba por ser a melhor forma de marketing… Promete, e de que maneira.
2 – «Inland Empire», de David Lynch
Um filme de David Lynch é sempre um acontecimento. Ou não fosse ele o mais original entre os grandes cineastas (seguido de perto por Cronenberg). Misterioso (melhor, insondável) como habitualmente, aqui Lynch nem sequer tinha um guião definido antes de filmar. Com Jeremy Irons e Laura Dern. Espera-nos mais uma viagem desconcertante…
3 – «Goya’s Ghosts», de Milos Forman
Grande projecto dirigido por um realizador de eleição sobre um artista de eleição. Argumento do grande Jean-Claude Carriére. Elenco com os estupendos Javier Bardem e Natalie Portman (e ainda com Stellan Skarsgard como Goya). O autor do lendário «Voando sobre um ninho de cucos» não costuma desiludir. Co-produzido por Saul Saentz e filmado em Espanha, este é um filme muito prometedor.
4 – «Nada a Esconder», de Michael Haneke
Prémio de realização do último Festival de Cannes. Consagração nos Prémios Europeus de Cinema. De um dos grandes cineastas europeus contemporâneos, autor de «A Pianista» e «Código Desconhecido». Excelentes críticas até agora.
5 – «Youth Without Youth», de Francis Ford Coppola
Regresso à realização de um dos maiores realizadores de sempre, com um projecto simultaneamente modesto e com um gosto renovado por experimentar. A filmar na Europa com um elenco maioritariamente europeu. Aguarda-se com ansiedade.
6 – «The Departed», de Martin Scorsese
Scorsese é Scorsese, logo, o seu próximo filme é obrigatório. É um remake do filme de Hong Kong «Internal Affairs» (2002). Mesmo que não tivesse Jack Nicholson (a fazer de mau) e Leonardo DiCaprio. Mesmo que não tivesse Thelma Schoonmaker (montagem), Michael Ballhaus (fotografia) e Howard Shore (música). Mas tem.
7 – «Zodiac», de David Fincher
Thriller sobre o assassino do Zodíaco, que aterrorizou São Franciso nos anos 60 e 70, nunca tendo sido apanhado. Harris Savides fotografa e Mark Ruffalo, Robert Downey Jr. e Jake Gyllenhaal protagonizam. Ingredientes de sobra para querer revisitar os temas de «Seven» e as técnicas do fabuloso realizador de «Clube de Combate».
8 – «Match Point», de Woody Allen
Dizem que é o melhor filme de Allen em anos. Isso já diz tudo de um dos nomes incontornáveis do cinema mundial, que nunca faz um filme sem interesse ou insosso. Parece que os ares da Europa lhe fizeram bem (filmou em Londres duas vezes seguidas), embora os ares da América nunca lhe tenham feito mal.
9 – «World Trade Center» (título provisório), de Oliver Stone
É com enorme expectativa que aguardamos pela reacção do povo americano à tragédia do 11/09 filtrada pela câmara de Oliver Stone. Este Jim Morrison do cinema actual (excessivo, igualmente amado e odiado) promete muito. Depois do injustamente trucidado «Alexandre», Stone vai mostrar (digo eu) que a sua carreira não acabou.
10 – «Babel», de Alejandro González Iñarritu
O excelente autor de «21 Gramas» continua fiel às suas narrativas cruzadas. Agora o ponto de partida é uma tragédia que afecta um casal em férias. Filmado no Japão, Marrocos e Canadá, com Brad Pitt, Cate Blanchett e Gael García Bernal. Escrito por Guilermo Arriaga e fotografado por Rodrigo Prieto. Esperam-se elevadas doses de dramatismo.
P.S. – Curiosamente, três deste filmes («Caché», «Match Point» e «Munich») estreiam em menos de um mês. Os outros irão surgir bem mais tarde. Saliento também que ainda não estrearam três dos filmes que faziam parte da lista que elaborei no ano passado (e que continuo a aguardar com ansiedade): «The History of Violence», «The New World» e «Manderlay».
3 de janeiro de 2006
Melhores filmes de 2005
1 – «Guerra dos Mundos», de Steven Spielberg
2 – «O Aviador», de Martin Scorsese
3 – «Million Dollar Baby», de Clint Eastwood
4 – «Colisão», de Paul Haggis
5 – «Mar Adentro», de Alejandro Aménabar
6 – «Perto Demais», de Mike Nichols
7 – «Saraband», de Ingmar Bergman
8 – «A Noiva Cadáver», de Tim Burton e Mike Johnson
9 – «Charlie e a Fábrica de Chocolate», de Tim Burton
10 – «O Fiel Jardineiro», de Fernando Meirelles
Os consagrados voltaram a provar o seu mérito (Spielberg, Scorsese, Eastwood e Tim Burton mostraram porque fazem parte do restrito lote dos melhores cineastas da actualidade). Merece uma referência especial o caso de Ingmar Bergman, pois há muito não se via um filme seu nos cinemas, e «Saraband» foi um dos momentos maiores do ano. A maior surpresa foi talvez «Colisão», do estreante Paul Haggis, poderoso fresco sobre as relações humanas e um certo sentido fatalista.
A vitalidade do cinema documental, com destaque para o magnífico «Grizzly Man» e para o incrível fenómeno de bilheteira (essencialmente nos EUA) que foi «A Marcha dos Pinguins».
O cinema português teve um enorme êxito de bilheteira («O Crime do Padre Amaro»), o que por ser raro é de louvar só por si; e um significativo êxito de crítica/prestígio entre os que o viram («Alice»).
A nível geral, o campeão de bilheteira do ano foi «Madagáscar», comprovando que são os filmes de animação que conseguem ser mais transversais em termos de público. Por falar em animação (mas não propriamente para crianças), mesmo no cair do pano de 2005, surgiu o belíssimo «A Noiva Cadáver», verdadeira obra de arte de um cinema artesanal que labora fascinado para fascinar os seus destinatários.
Votos de um excelente 2006!
2 de janeiro de 2006
«A Noiva Cadáver» («The Corpse Bride», 2005), de Tim Burton e Mike Johnson
Uma maravilha de fluidez narrativa, impacto visual, criatividade na concepção dos bonecos e capacidade de criar uma fábula tão divertida quanto dramática.
Tim Burton repetiu a proeza do genial «O Estranho Mundo de Jack» (sendo apenas ligeiramente inferior a este) e deu-nos mais um presente de cinema para a posteridade. É difícil eleger o melhor: os bonecos/personagens irresistíveis, o cunho visual gótico/expressionista, as vozes (que vozeirão o de Christopher Lee!), as imaginativas sequências musicais, os ambientes contrastantes entre o frio das mansões do mundo dos vivos e o autêntico cabaré do mundo dos mortos, o assombroso detalhe visual, o encontro entre os dois mundos (que tem um desfecho hilariante), o dilema trágico da noiva cadáver , as referências cinéfilas, o negrume que consegue destilar num contexto de cinema de animação. Enfim, um sem número de aspectos que deixam os amantes de cinema a salivar. E vem provar que, apesar do deslumbre que a animação digital tem gerado nos tempos mais recentes, o génio cinematográfico não tem fronteiras formais nem metodológicas. O artesanal «stop-motion» ombreia com os mais poderosos computadores, em resultados artísticos, entenda-se. Desde que tenha aos comandos um homem como Tim Burton…
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