4 de agosto de 2005

«Guerra dos Mundos» («War of the Worlds», 2005), de Steven Spielberg

Uau! É a primeira palavra que me vem à cabeça para abordar esta «Guerra dos Mundos». É um dos mais impressionantes e realistas filmes feitos sobre um cenário apocalíptico. Ou seja, faz-nos sentir dentro daquele espaço em decomposição e vibrar (e desesperar) com o que seria se tal evento sucedesse no mundo real.
Que Spielberg é mágico, já se sabia há muito, mas aqui tem mais uma prova do seu talento. A colocação em cena das máquinas de extermínio extraterrestres é absolutamente notável, dando forma aos maiores medos humanos relacionados com a existência de vida fora da Terra. Se é verdade que a idealização dos elementos alienígenas e respectivo «modus operandi» vem de H.G. Wells e do seu clássico literário com mais de um século, não é menos verdade que a transposição dessa tese para os nossos dias é feita de forma quase perfeita graças à excelente realização e ao brilhantismo dos efeitos especiais. Nessa matéria, atrevo-me a dizer, a maior parte dos filmes com ambições semelhantes empalidecem imediatamente em comparação.
«Arrumado» que está o filme (e que filme!) que diz respeito à invasão de um ponto de vista macrocósmico, contextual, puramente devedor do espectáculo visual, passemos ao outro, ao tocante filme familiar que tem a particularidade de se desenrolar num pano de fundo tão radical e desesperado. Ora, esse é o coração da «Guerra dos Mundos», colocando em perspectiva a relação entre pais e filhos de um ponto de vista de uma desarmonia profundamente actual. Os actores corporizam muito bem essa relação precária (e magoada) e Spielberg sabe conduzi-los em direcção à emoção triunfante. Destaco duas cenas estupendas: a primeira quando a filha (Dakota Fanning, excelente) observa os cadáveres no rio e a segunda quando Ray e o filho discutem à passagem de uma caravana militar. A história não está isenta de pequenas incongruências e inverosimilhanças, mas a sensação global é de que estivemos à beira do fim do mundo e sobrevivemos. Nós, espectadores, com as personagens, e talvez com isso saibamos reflectir melhor sobre as nossas prioridades.
Em suma, é necessário que o mundo esteja (literalmente) a acabar para que aquela família se possa reencontrar. Parece ser esse o pressuposto mais belo deste inesquecível filme.

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