Sabe bem constatar que o categórico percurso do jovem M. Night Shyamalan se mantém inabalável, cimentando o seu prestígio. "A Vila" é mais uma obra de grande cinema que impressiona acima de tudo pela excelente realização e pelo fabuloso argumento. Na verdade, este é daqueles filmes que nos faz saborear uma história imprevisível cujas coordenadas são sempre incertas e por isso aguçam o prazer do olhar. É verdade que as reviravoltas são já a imagem de marca do autor, mas elas nunca são forçadas, antes jogam com a complexidade do real e do espectador, insuflando o poder da narrativa. Conferem até possibilidades de histórias ou ramificações, como se a dada altura o contador resolvesse propor um "e se...", enriquecendo assim a história principal.
"A Vila" é (também) sobre o medo, mas não me parece que seja um filme de terror, anda muito longe disso; apenas convoca alguns códigos do género para melhor os transcender. É principalmente uma história de amor, de inocência e de coragem, mas também uma ilustração megalómana da mentira dos homens. Tem, portanto, quase todos os ingredientes para construir uma sólida alegoria sobre a humanidade. E consegue-o, pois retrata sentimentos e emoções contraditórios, condutas e crenças que se propõem melhorar a vida em comum, mas que no fundo se ancoram na dúvida mais funda.
Num cast de luxo muito bem dirigido, destaca-se Bryce Dallas Howard, numa daquelas interpretações que fazem realmente acreditar (anseia-se pela sua prestação no próximo de Lars Von Trier e augura-se-lhe uma grande carreira). Intensos estão também Joaquin Phoenix, muito mais comedido do que é habitual, e o excelente William Hurt.
Soberba é a fotografia de Roger Deakins, viva e intensificadora da atmosfera que se pretende muito marcada pelos símbolos pictóricos. Já ao nível do tratamento sonoro, nota-se algum exagero nos sons ameaçadores.
Para finalizar, destaco a mais bela cena do filme: quando Lucius e Ivy falam no alpendre sobre os seus sentimentos - que diálogo fantástico - e confessam o amor recíproco.
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