31 de agosto de 2004

“Primavera, Verão, Outono, Inverno…e Primavera” (2003), de Kim Ki-Duk

“Compreender o mundo, explicá-lo, desprezá-lo, são coisas que poderão agradar aos grandes pensadores. Mas eu considero mais importante amar o mundo, não o desprezar, não o odiar nem me odiar, observá-lo, a mim e a todos os seres com amor e admiração e respeito.”

Siddhartha, de Hermann Hesse

Serve esta introdução para situar este sublime filme no coração do Budismo. É esse o lugar que ocupa, mas é extraordinária a forma como não codifica para não excluir. Simplicidade de meios e de argumentos para atingir objectivos artísticos e espirituais de excelência. A história é uma lição de vida, harmonizando o homem com a natureza, a parte com o todo, a beleza com a sua negação.
A sabedoria é algo que não se consegue comunicar: pode-se vivê-la, aprender com ela, mas não explicá-la de forma lógica. É um caminho que tem que ser percorrido e acumulado. Como este filme. Não é possível comunicar por qualquer jogo de palavras – por mais talentoso que seja – a abrangência, a veracidade, a harmonia que nos transmite. Só passando pela experiência é que podemos vislumbrar um pouco da consciência universal que os budistas preconizam e, com isso, aceder à noção de vida como ciclo de impermanência. Atravessado por imagens de uma beleza purificadora, este é um filme que vale por 100. 100? Por 1000!
Essencial, em todos os sentidos.
Obra-prima.

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