Digamos que Almodóvar perdeu um pouco do seu brilho com esta incursão pelas memórias de infância. Por aqui não passa aquela vivacidade louca que tanto nos comoveu noutros filmes (como "Fala com Ela"). Isso não significa, contudo, que "Má Educação" seja desprovido de qualidades e interesse. Apenas nos desiludimos por estarmos à espera do maravilhamento que o autor nos começara a habituar.
É uma história negra com um argumento repleto de peças para encaixar. Possui reminiscências hitchcockianas - aproximando-se do policial na mesma medida a que se afasta do melodrama - mas aqui só os homens são fatais.
Às marcas habituais de Almodóvar - o retrato festivo e plural da sexualidade, a abordagem directa da toxicodendência, o amor intra-sexual - este filme acrescenta-lhe a vivência da infância num colégio católico corrupto e uma viagem aos meandros do próprio cinema. São precisamente estas "novidades" que não estão à altura das suas imagens de marca. A crítica à hipócrita educação católica (com referências à pedofilia) não traz nada de novo, bem como o aproveitamento cinematográfico das histórias reais, tentando o piscar de olho à relação entre realidade e ficção. Na história do filme e na própria vida do autor.
No entanto, é um bom filme que se segue com bastante interesse. E Gael Garcia Bernal faz um travesti muito giro!
Em suma, bom.
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