Estimulante regresso de Bertolucci ao seu melhor num belíssimo exercício de amor ao cinema e à vida.
Um pouco à semelhança de filmes como «A Insustentável Leveza do Ser» ou «Henry e June», de Philip Kaufman - para além da energia erótica, «Os Sonhadores» retrata a sociedade da época (Paris no final dos anos 60 e a eclosão do «Maio de 68»), não pelo olhar colectivo, mas antes pelas convulsões que marcam a vida do trio principal que vamos conhecendo na intimidade e que constitui o espaço onde se jogam coisas decisivas da afectividade.
Michael Pitt, Eva Green e Louis Garrel (filho de Philippe Garrel) exalam energia, retratando o desejo de viver uma utopia de liberdade e amor. A sua clausura é feita de descoberta (de si e do outro), de experimentação, de reflexão e de prazer, povoada pelos jogos intelectuais e cinéfilos de puristas (recusam-se a ver televisão, sinal dos tempos). Um forte erotismo atravessa o triângulo amoroso destes sonhadores que misturam os filmes com a vida de uma forma que já não torna possível a distinção.
Destaque para o magnífico conjunto de canções que envolve a narrativa e confere às imagens uma dinâmica outra (particularmente belas as sequências com «La Mer» de Tenet e «The Spy» dos Doors).
Bertolucci regressa a Paris e à entrega dos corpos à paixão, mas, ao contrário do seu célebre último tango, há aqui uma figuração de recusa da solidão e onde a transgressão interior é o único caminho para a liberdade exterior. E a citação cinéfila é todo um programa irresistível.
Quando a história se finaliza e as imagens são ofuscadas pela voz sublime de Piaff a cantar «Je ne regrette rien», é impossível escapar de uma intensa emoção.
Em suma, muito bom.
Sem comentários:
Enviar um comentário