A morte, é bem sabido, não é um tema com que as pessoas nas nossas sociedades se sintam à vontade para lidar. Nunca é algo realmente interiorizado, fazendo parte dos lugares comuns dizer que ela é certa, mas nunca é realmente aceite e permanece como um buraco negro, misterioso e temível, centro dos discursos das religiões, mas apenas preocupação real dos homens quando a têm de enfrentar – directamente ou através dos entes queridos.
Falo disso porque «21 Gramas» transpira morte por todos os poros e, por isso, é muito incómodo. Aquelas personagens que nos perturbam (especialmente o magnífico trio constituído por Sean Penn, Benicio Del Toro e Naomi Watts) sentem que depois da morte a vida não continua, é outra coisa que continua, mas não a vida. E o inferno está na mente.
Alejandro González Iñarritu, depois da auspiciosa estreia com «Amor cão», confirma o seu talento de contador de histórias e de director de actores, conduzindo uma espécie de tripla via sacra contada em fragmentos cuja cronologia não é linear, mas antes baralhada para o espectador encaixar como um puzzle. A montagem fabrica um todo cristalino, apesar das sinuosidades internas, que nos arrebata pela densidade emocional e humana que transmite. É um filme muito duro, daqueles com que saímos com uma sensação de mal-estar, mas plenamente conseguido.
Em suma, muito bom.
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