31 de dezembro de 2013

Filmes mais aguardados de 2014



1 - Interstellar, de Christopher Nolan
2 - Transcendence, de Wally Pfister
3 - Noah, de Darren Aronofsky
4 - Her, de Spike Jonze
5 - Gone Girl, de David Fincher
6 - Trash, de Stephen Daldry
7 - Birdman, de Alejandro Gonzalez Iñarritu
8 - Inherent Vice, de Paul Thomas Anderson
9 - Knight of Cups, de Terrence Malick
10 - 12 Years a Slave, de Steve McQueen

Ainda falta o novo de Scorsese (The Wolf of Wall Street, estreia dia 9) e o do Cronenberg (Maps to the Stars, ainda vai demorar uns meses).

Melhores filmes de 2013



A imprescindível lista dos poucos filmes que foi possível conhecer nos últimos doze meses. Liderada pelo belíssimo filme de Tornatore, um hino à irredutível solidão do ser humano (mas também um elegante thriller com toques hitchcockianos), tem outras propostas que valem muito a pena. Se pudessem entrar os filmes não estreados em sala, a vitória caberia ao sensacional «Pietá», de Kim Ki-Duk.

1 - A Melhor Oferta, de Giuseppe Tornatore
2 - Antes da meia-noite, de Richard Linklater
3 - A Essência do Amor, de Terrence Malick
4 - Bestas do Sul Selvagem, de Benh Zeitlin
5 - Ferrugem e Osso, de Jacques Audiard
6 - 00:30 A Hora Negra, de Kathryn Bigelow
7 - Lore, de Cate Shortland
8 - Guia para um Final Feliz, de David O. Russell
9 - Lincoln, de Steven Spielberg
10 - Eu e Tu, de Bernardo Bertolucci


5 de novembro de 2013

Antes da Meia-Noite (Before Midnight, 2013), de Richard Linklater



Após «Before Sunset» (1995) e «Before Sunrise» (2004), regressamos à história de Jesse (Ethan Hawke) e Céline (Julie Delpy). Agora nos 40, o casal vai voltar a confrontar-se e a colocar o amor à prova, desta vez em férias na Grécia. Este terceiro andamento da história iniciada em Viena é o mais perturbador, desde logo porque a implacável passagem do tempo traz angústias, rugas, desilusões e dessintonias. Mas eles continuam os mesmos e teimam romanticamente em não desistir um do outro. Com diálogos hiper-realistas, vamos assistindo a situações que espelham na perfeição o que é o masculino-feminino e como as relações num casal tanto se antagonizam como se (re)conciliam. Céline revela-se bela, inteligente e docemente sarcástica, mas também egoísta, intratável e eternamente insatisfeita. Jesse, por seu lado, mostra imaturidade, narcisismo e primarismo, mas também preocupação, sensibilidade e uma quase comovente devoção à sua amada.
O que é mais incrível neste filme é a forma como consegue desconstruir o conto de fadas romântico, ao mesmo tempo que mostra como ele é necessário e, até, possível. Uma quimera que se esconde e se mostra no rosto da pessoa amada, que está mesmo ali, tão perto e tão longe. Cada diálogo encena essa procura e esse mistério.
A sequência no quarto de hotel é uma das melhores do cinema recente ao nível da dissecação da vida a dois. E é impossível, para alguém na mesma faixa etária, não se rever (a si e ao seu parceiro) nesta história tão sedutora quanto assustadora. Tal como na (nossa) vida, queremos tanto que tudo dê certo.

23 de setembro de 2013

Pietá (2012), de Kim Ki-Duk




Um filme fabuloso, dos melhores dos últimos tempos, que alia a substância das ideias ao prazer de contar uma história. 
A primeira meia hora fez-me lembrar de «Eraserhead», de David Lynch, com as deprimentes paisagens industriais (agora a cores) e um protagonista meio alucinado (embora bem mais ofensivo). Mas rapidamente a história evolui para um entusiasmante conto de vingança e redenção, explanando de forma brilhante as relações essenciais mãe-filho enquanto flui em direcção ao surpreendente epílogo. É um filme duro e violento, mas uma daquelas experiências cinematográficas inesquecíveis. 
Depois do extraordinário «Primavera, Verão, Outono, Inverno... e Primavera», estou definitivamente rendido a este cineasta sul-coreano. 

15 de julho de 2013

Assassinos em Férias (Sightseers, 2012), de Ben Wheatley


Imagine-se «Bonnie e Clyde» realizado por Mike Leigh, com uma infusão do humor de «Braindead», de Peter Jackson, e teremos uma ideia do tipo de filme que se nos apresenta. É, na verdade, uma hilariante digressão pelo countryside britânico, para audiências adultas, tal é o nível de amoralidade e as situações chocantes. Destaque ainda para a óptima integração dos temas dos Soft Cell e dos Frankie Goes to Hollywood na banda sonora. O final, esse, é um exemplo brilhante de humor negro (ou será amor negro?). Edgar Wright continua a dar cartas, desta vez como produtor executivo.

10 de junho de 2013

Esquecido (Oblivion, 2013), de Joseph Kosinski



Interessante pelo mix de referências cinéfilas, pelo belo desenho de produção e por alguns momentos da história. Apesar de tudo, há pontas soltas no argumento e a noção de que estamos a assistir a um digest de filmes de ficção científica. A banda sonora tonitruante dos M83 também não ajuda. Mas no global é um bom filme.


8 de maio de 2013

A Essência do Amor (To the Wonder, 2012), de Terrence Malick




Que filme é este? Que mistério é este? É como todos os filmes de Malick. E como nenhum outro. À la merveille. Alguém diz. O sol esplana-se sempre diferente. Mostra-nos o caminho? Que amor é este? Fecham-se as cortinas. Coreografam-se os corpos. Beleza, beleza pura. Ben Affleck é um tremendo erro de cast. Não faz mal. Há Olga Kurylenko. Há música. Mas não responde às perguntas. O som da água infiltra-se nas entranhas da alma. O rosto das crianças é o rosto de Deus. Será? Porque é que Deus os abandonou? Desmaiam as cores no pôr do sol. Mastigam, indiferentes, os bisontes. Não há ninguém aqui. A vida é um sonho e tu podes ser quem quiseres. Cabelos suaves, esvoaçantes. Queres sonhar comigo? Desde que não casemos. Liberta-te. Eu sou a minha própria experiência. Escrevo os meus pensamentos no teu corpo.
Quero pensar-te. Porquê? O ódio nasce do amor. Sentes a luz espiritual? Porque estás triste? Triste não, melancólico. Sozinho. Solteiro. Preciso de te encontrar. Mostra-me o caminho. A música é o caminho mais próximo de exprimir o inexprimível. Rumo à maravilha.
Que filme é este? É poesia. É único. É Malick.

12 de abril de 2013

A Melhor Oferta (The Best Offer, 2012), de Giuseppe Tornatore



O realizador do mítico «Cinema Paraíso» está de regresso com mais uma história de uma personagem invulgar, como a do protagonista do excelente «A Lenda de 1900». Aqui o protagonista é um leiloeiro e coleccionador de quadros, interpretado de forma magistral por Geoffrey Rush, com medo do relacionamento com mulheres. O filme coloca em paralelo o portentoso retrato da solidão afectiva de um homem e uma espécie de parábola sobre a arte, o mistério do feminino e os caminhos tortuosos do amor. Um filme com uma enorme capacidade de tocar a alma humana (pelo menos a minha tocou) e em relação ao qual não se pode esquecer o contributo da sua belíssima banda sonora do incontornável Ennio Morricone (felizmente que a sua idade não o impede de trabalhar e de continuar em forma). Destaque para três sequências memoráveis: duas envolvendo o compartimento secreto de Virgil e ainda a sequência final, que exala uma imensa tristeza. Um filme imensamente belo, que é na minha opinião um dos mais marcantes do ano.

3 de abril de 2013

00:30 - A Hora Negra (Zero Dark Thirty, 2012), de Kathryn Bigelow



Um tour de force realizado com mestria por Kathryn Bigelow que fica como documento incontornável sobre um dos processos mais intrincados do combate ao terrorismo e da História deste início de século. O que mais impressiona, de facto, é a forma como "Zero Dark Thirty" cola o espectador ao ecrã e o faz esquecer de que está a ver um filme e não a assistir a fragmentos da realidade tal como ela aconteceu. Não que estejamos num registo de docudrama clássico, antes porque a secura de processos, a escolha dos planos e a recusa de invocações psicológicas para as acções das personagens conduzam por vezes a um estilo próximo do cinéma-verité. Temos, pois, um relato vibrante que consegue colocar no seu centro uma mulher (o termo motherfucker com que a dada altura se auto-intitula não é inocente) que, numa paisagem dominada por homens, consegue ser a mais forte, sem, contudo, perder a vulnerabilidade tipicamente feminina. Uma grande personagem feminina (filmada, não por acaso, por uma mulher). Um grande filme.

1 de abril de 2013

Terra Prometida (Promised Land, 2012), de Gus Van Sant


Chaplin disse um dia que a vida é uma comédia quando vista à distância e uma tragédia quando analisada de perto. O novo filme de Gus Van Sant tem a ver com isto. Aquilo que no fundo é um processo quotidiano do capitalismo vigente - uma empresa a trabalhar com vista à obtenção de lucros milionários - vai-se lentamente transformando numa crítica a uma sociedade que prefere entreter-se com o plano geral em vez de procurar resolver os dramas do grande plano. Esta transformação actua em simultâneo com a transformação do seu admirável protagonista (Matt Damon, co-autor do argumento), que finalmente percebe que é mais uma marioneta de uma engrenagem que o transcende. O filme encena esta problemática com uma apurada delicadeza para com as pessoas e delicia-nos com o seu fino sentido de humor. Em tempos de convulsão económica, este é um filme muito actual, pois coloca a questão central: que sentido tem a acumulação de riqueza se esta não estiver ao serviço do planeta e, por inerência, das pessoas? Pois é, todos temos um preço. Esse continua a ser o problema.