12 de junho de 2006

«O Tempo que Resta» («Le Temps qui Reste», 2005), de François Ozon


Reflexão sobre a morte, o novo filme de François Ozon segue Romain (excelente Melvil Poupaud), fotógrafo de moda com pouco mais de 30 anos e uma sentença fatal como resultado de um cancro disseminado. Romain vai-se despedindo da vida sem redenções eloquentes, fúrias rebeldes ou confissões imperativas. Basicamente, vai-se confrontando com imagens da infância, revê os seus entes queridos, fotografa, e vai sucumbindo sem lutar. Para o espectador, nós/eu, é obviamente incómodo e profundamente comovente (no sentido íntimo do constante mistério que é lidar com o tema do fim da existência) assistir aos últimos momentos da vida desta pessoa/personagem comum, sem exemplarismos morais, virtudes elevadas ou sequer particular simpatia. Nesse âmbito, podemos falar de realismo quando pensamos no perfil psicológico e atitudinal de Romain.
François Ozon executa um trabalho sóbrio de realização, sempre interessado no seu protagonista e respectivo caminho até ao melancólico e poético soçobrar na praia ao entardecer. Mesmo sem um grande argumento ou suficiente desenvolvimento de personagens secundárias ou suas relações (merece destaque a carismática presença de Jeanne Moreau como avó), este é um filme muito interessante, principalmente pelo retrato do protagonista e pela forma como ele nos faz também pensar sobre o efémero.