23 de junho de 2006

«O Novo Mundo» («The New World», 2005), de Terrence Malick


A expressão que me parece caracterizar melhor este filme é «diamante em bruto». Quero com isto dizer que se trata de uma preciosidade, mas que lhe falta trabalho de lapidação. As sequências na natureza são muito belas, o tempo que a câmara se demora na exploração de um rosto, uma textura ou um curso de água permite a elevação para um patamar narrativo que dá ao espectador outra fruição. Mas tudo isto parece ser feito com o desprezo pelo aperfeiçoar do todo, ou seja, a montagem não efectuou o seu trabalho de forma a sublimar um arrebatamento que poderia ter existido.
As personagens – à excepção talvez da central, interpretada excelentemente pela jovem Q’Orianka Kilcher (um achado de expressividade e de força natural) – também não têm a dimensão que se exigia, nem são desenvolvidas de uma forma adequada a um filme com laivos de épico. É, pois, nesse sentido, quase um anti-épico.
Claro que Terrence Malick é um cineasta especial e uma vez mais isso nota-se aqui. De qualquer forma, é pena ficar-se com uma noção de desequilíbrio (e de aborrecimento, a espaços) quando se vislumbra tanto talento ao nível do tratamento visual e da transcendência de códigos narrativos e plásticos. É um belo filme que podia ter sido uma obra-prima se não se quisesse fugir a todo o custo ao convencional.

1 comentário:

Susana Fonseca disse...

Desafio cinematográfico...