3 de março de 2006

«Nada a Esconder» («Caché», 2005), de Michael Haneke


Intrigante, o último filme de um dos melhores realizadores da Europa desilude um pouco pela forma como termina, deixando o espectador sem respostas satisfatórias. Nalguns casos – como na maior parte do cinema de David Lynch, por exemplo – isso não é propriamente um problema, mas aqui é-o. E é um problema porque durante todo o filme o registo de thriller aponta sempre para um climax que nunca chega a surgir (mesmo que ameace fortemente). Assim, é um filme abstracto, muito interessante, com momentos de grande força e perturbação, mas que parece ficar um pouco aquém dos seus propósitos (pelo menos, aqueles que chegamos a vislumbrar pelo meio da história).
Aqui não é um mero pormenor saber quem afinal fazia os vídeos que os protagonistas recebiam. É a questão central. E sendo interessante a teoria de que é o próprio Haneke quem envia os vídeos às suas personagens, isso nunca é sugerido por nenhum elemento narrativo ou dica visual.
É pena essa lacuna, pois o filme está muito bem realizado e explora temáticas tão pertinentes quanto as da comunicação familiar, dos mecanismos da memória e da emergência de uma paisagem audiovisual totalmente contaminada pela realidade.

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