Este filme filia-se na tendência cinematográfica recente corporizada por cineastas como Spike Jonze e Michel Gondry, um cinema capaz de dar a ver ideias bizarras como forma de satirizar o mundo, dissecar a alma humana e, ao mesmo tempo, alargar um pouco as fronteiras narrativas e as possibilidades de mise-en-scène. Os resultados ficam muito distantes do genial «Queres Ser John Malkovich?», mas não deixa de ser um filme muito interessante e com bastantes pontos em comum com o filme citado.
A maior bizarria que o filme encerra é a subversão das coordenadas ficcionais epidérmicas. À superfície, tudo (e todos) parece alucinado, na fronteira da normalidade, mas por dentro há retratos humanos vulneráveis e um diagnóstico muito divertido da contemporaneidade. O mais curioso é que, pretendendo satirizar a sociedade de consumo, o filme acaba por ser ainda mais implacável para com aqueles que alegadamente a combatem. Apesar do elenco de eleição, é curiosamente Mark Wahlberg, um actor de muitas limitações, quem mais se consegue destacar com aquela cara impagável de obcecado.
Inteligente, apesar de desequilibrado e incapaz de se transcender, este filme de título difícil (o original como o português) consegue percorrer o arco entre a profundidade existencial e o vácuo da irrisão, um pouco à semelhança de «O Sentido da Vida» (outro filme genial), dos Monty Python.
Enfim, sai-se do cinema com um grande sorriso nos lábios. Mérito de uma comédia inteligente e que ousa parecer esquisita sem se preocupar com isso.
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