Primeiro, devo dizer que não vi a obra-prima que muitos apregoavam. Porém, é um filme muito interessante, visceral, ao jeito de algum Scorsese (mormente «Taxi Driver» e «Os Cavaleiros do Asfalto»). E como a cinefilia estabelece automaticamente uma geografia mental, é imperioso constatar que o mesmo Harvey Keitel que encarna a personagem principal de «Fingers» (a origem americana deste remake) aparecia também nos referidos filmes...
Avancemos. Não há dúvida que este é daqueles filmes que gravita totalmente sobre o seu protagonista (tal como «Dancer in the Dark» o fazia em relação a Björk, só para dar um entre muitíssimos exemplos). De facto, o Tomas desempenhado (de forma excelente, como é reconhecido) por Romain Duris é o centro da fita que joga tudo na nossa implicação mental com ele. Tomas vive inquieto e tudo à volta dele se edifica como dilemas (pai/mãe, amor/prazer, claro/escuro, pai/filho) a que tem que reagir quase sempre impulsivamente. É, pois, um filme dual, de contrastes, que explana a psicologia da sua personagem central quase em filigrana, dando a conhecer até os seus mecanismos mais ínfimos.
Não obstante o grande interesse que desperta na sua globalidade, parece faltar-lhe um certo arrebatamento e uma maior ligação dramática entre Tomas e o mundo exterior. Ou seja, é um bom retrato psicológico, mas não chega a ser sociológico.
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