8 de abril de 2005

"Mar Adentro" (2004), de Alejandro Aménabar

Se há filmes que mexem fundo nas emoções humanas – neste caso, pela história, as suas implicações morais e a riqueza humana das personagens –, este é indiscutivelmente um deles. A história de Ramón Sampedro é paradoxalmente um belo espelho da defesa da vida através da reivindicação do direito à morte. E se a história (real) é exemplar na maneira como coloca em perspectiva a ética perante a vida, a explanação cinematográfica dessa história tem o mérito de nos implicar com as personagens e, com isso, tornar-nos parte dela.
Fantástica interpretação de Javier Bardem, que faz confluir para o rosto (os olhos e o sorriso – uma outra forma de chorar…) a transmissão total das suas emoções. Mas o elenco feminino é de uma adequação e beleza interior a toda a prova.
Para além do nuclear, que é o trabalho dos actores e os respectivos retratos humanos (é isso que nos sensibiliza), fica na retina o travelling sonhado de Ramón que desemboca na praia – símbolo do sonho como último reduto de vida.
«Mar Adentro» dá-nos um retrato de um ser humano de uma enorme sensibilidade e convicção que passou por uma situação indigna por causa do questionável quadro legal sobre a eutanásia no seu país. Concorde-se ou não com isso, este é um filme obrigatório para reflectir sobre o assunto. Mas é mais do que isso, é uma história perturbante filmada e interpretada com enorme sensibilidade.

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