29 de dezembro de 2004
Lista dos melhores filmes de 2004
1 - Primavera, Verão, Outono, Inverno... e Primavera, de Kim Ki-Duk
2 - Terminal de aeroporto, de Steven Spielberg
3 - O Amor é um lugar estranho, de Sofia Coppola
4 - O Grande Peixe, de Tim Burton
5 - 21 Gramas, de Alejandro Gonzalez Iñarritu
6 - Os Sonhadores, de Bernardo Bertolucci
7 - À Procura da Terra do Nunca, de Marc Forster
8 - Alexandre, o grande, de Oliver Stone
9 - A Vila, de M. Night Shyamalan
10 - Antes do anoitecer, de Richard Linklater
Num ano em que, por razões pessoais de menor disponibilidade, não vi vários dos filmes que mais interesse me despertaram, esta é a lista possível.
Talvez por isso mesmo, este pareceu-me um ano em que a qualidade foi um pouco inferior à do precedente. Contudo, foi exibido muito bom cinema e - o que é muito salutar e tendência recente - diverso em origem e género. Nem por acaso, o meu filme preferido (a experiência zen do ano) foi a sublime fábula sul-coreana que acompanha o desfile das estações do ano em paralelo com as estações (estados) da vida humana. Não queria ainda deixar de enfatizar o regresso em forma do grande senhor do cinema que é Bernardo Bertolucci - "Os Sonhadores" é uma belíssima homenagem ao cinema e à juventude - e o mal-amado épico de Oliver Stone que me proporcionou (a despeito das expectativas modestas) uma das melhores sessões de cinema do ano. Mesmo a finalizar 2004, o mágico e comovente "À Procura da Terra do Nunca" (com um fabuloso Johnny Depp) conseguiu encontrar um lugar indiscutível nesta lista.
Votos de um excelente 2005!
22 de dezembro de 2004
"Alexandre, o grande" (Alexander, 2004), de Oliver Stone
Domingo, 14h55, cinemas Saldanha. Desloco-me às bilheteiras para comprar o ingresso para o último filme de Oliver Stone (arrasado pela maioria dos críticos e público portugueses e norte-americanos). Com as expectativas desinsufladas, constato haver apenas bilhetes para a primeira fila. Seria verdade que só na primeira fila este Alexandre se tornaria realmente grande? Ver para crer...
E o que vi? Um excelente filme que retrata um mito com toda a sua amálgama de incidências, das tortuosas relações familiares às desvairadas ambições militares, das complexas ligações amorosas às visionárias perspectivas sobre o mundo e os povos. A história de um homem maior que a vida, contada com desequilíbrios e excessos - é verdade - mas talvez por isso mesmo, decorrente de uma vontade quase febril de abarcar a torrente de histórias que à sua volta se criaram.
Num filme com este tema era impossível evitar a polémica. Quando os registos históricos que existem são muitas vezes contraditórios, dificilmente se poderia escapar a uma concepção necessariamente subjectiva de tamanha personagem, mais devedora da lenda que da realidade. Ora, esta dimensão megalómana (Megalexandros) é mostrada de forma visceral e caótica, mas apaixonante. Alexandre é corajoso, utópico, generoso, impiedoso, determinado, sensível, etc. Tudo em simultâneo. Resulta daí um ser complexo a que não é alheia a sua educação, lutando tanto contra os seus fantasmas quanto contra os inimigos. O mais interessante é sempre a forma ambígua como a sua personalidade é retratada, fugindo a tentações unidimensionais. Claro que o elenco é muito criticado, mas na minha opinião todos estão à altura dos seus papéis, incluindo Colin Farrell (um papel muito difícil), Anthony Hopkins (não me pareceu nada maçador, desculpem-me), Val Kilmer e Angelina Jolie. Quanto à última, é evidente que não disfarça a exígua diferença de idades em relação ao protagonista, mas isso até se esquece rapidamente tal é a sua beleza enfeitiçante e perversa retratando uma mãe possessiva com alma de bruxa (que importa o sotaque?).
Se as personagens e seus intérpretes asseguram a densidade dramática ao empreendimento, a concepção visual (e sonora) não desilude: que outro epíteto senão belíssimas merecem as imagens da Babilónia, Alexandria, batalha de Gaugamela ou a sequência do duelo de Alexandre e o seu Bucéfalo contra um elefante?
Um épico poderoso, mal amado, ousado e desequilibrado, que preferiu dar mais visibilidade ao íntimo do que ao público. Oliver Stone teve que aguentar com as críticas, mas o que é certo é que chegou a tempo de integrar a minha lista dos melhores filmes do ano. Façam-lhe justiça: vão ver!
E o que vi? Um excelente filme que retrata um mito com toda a sua amálgama de incidências, das tortuosas relações familiares às desvairadas ambições militares, das complexas ligações amorosas às visionárias perspectivas sobre o mundo e os povos. A história de um homem maior que a vida, contada com desequilíbrios e excessos - é verdade - mas talvez por isso mesmo, decorrente de uma vontade quase febril de abarcar a torrente de histórias que à sua volta se criaram.
Num filme com este tema era impossível evitar a polémica. Quando os registos históricos que existem são muitas vezes contraditórios, dificilmente se poderia escapar a uma concepção necessariamente subjectiva de tamanha personagem, mais devedora da lenda que da realidade. Ora, esta dimensão megalómana (Megalexandros) é mostrada de forma visceral e caótica, mas apaixonante. Alexandre é corajoso, utópico, generoso, impiedoso, determinado, sensível, etc. Tudo em simultâneo. Resulta daí um ser complexo a que não é alheia a sua educação, lutando tanto contra os seus fantasmas quanto contra os inimigos. O mais interessante é sempre a forma ambígua como a sua personalidade é retratada, fugindo a tentações unidimensionais. Claro que o elenco é muito criticado, mas na minha opinião todos estão à altura dos seus papéis, incluindo Colin Farrell (um papel muito difícil), Anthony Hopkins (não me pareceu nada maçador, desculpem-me), Val Kilmer e Angelina Jolie. Quanto à última, é evidente que não disfarça a exígua diferença de idades em relação ao protagonista, mas isso até se esquece rapidamente tal é a sua beleza enfeitiçante e perversa retratando uma mãe possessiva com alma de bruxa (que importa o sotaque?).
Se as personagens e seus intérpretes asseguram a densidade dramática ao empreendimento, a concepção visual (e sonora) não desilude: que outro epíteto senão belíssimas merecem as imagens da Babilónia, Alexandria, batalha de Gaugamela ou a sequência do duelo de Alexandre e o seu Bucéfalo contra um elefante?
Um épico poderoso, mal amado, ousado e desequilibrado, que preferiu dar mais visibilidade ao íntimo do que ao público. Oliver Stone teve que aguentar com as críticas, mas o que é certo é que chegou a tempo de integrar a minha lista dos melhores filmes do ano. Façam-lhe justiça: vão ver!
13 de dezembro de 2004
Os 10 filmes mais esperados de 2005
[Obviamente, esta é uma escolha pessoal de algumas prováveis estreias nos nossos cinemas no próximo ano. Haverá certamente outros filmes (muitos mais, esperemos) capazes de despertar o interesse dos cinéfilos]
1 - War of the worlds, de Steven Spielberg
Com um orçamento superior aos 120 milhões de dólares, a versão spielberguiana do clássico de H.G. Wells celebrizado pela versão radiofónica de Orson Welles promete ser um espectáculo emocionante. Tom Cruise é o protagonista, o argumento é de David Koepp e os inevitáveis John Williams (música) e Janusz Kaminski (fotografia) não faltam à chamada. Com o luxo destes ingredientes, nada pode correr mal...
2 - The Aviator, de Martin Scorsese
O pioneiro da aviação e cineasta Howard Hughes retratado pelo mestre Scorsese. Leonardo di Caprio, Kate Beckinsale, Cate Blanchett e Alan Alda protagonizam. Argumento de John Logan e restante ficha técnica de luxo (Thelma Schoonmaker, Robert Richardson, Howard Shore, Dante Ferreti...).
3 - Charlie and the chocolate factory, de Tim Burton
A partir de um livro de Roald Dahl, o mago Tim Burton mostra a história de Willy Woncka (Johnny Depp), dono de um império de chocolate. Música de Danny Elfman e fotografia de Phillipe Rousselot. O prognóstico afigura-se delicioso...
4 - The New World, de Terrence Malick
A colisão de culturas entre os exploradores europeus e os nativos americanos na América do séc. XVII. Um novo filme de Terrence Malick não é privilégio frequente, há que aproveitar. Protagonizam Colin Farrell, Christopher Plummer, Christian Bale e David Thewlis. Fotografia de Emmanuel Lubezki.
5 - Manderlay, de Lars Von Trier
Segunda parte da trilogia USA que se iniciou com o impressionante "Dogville". Nicole Kidman foi substituída pela revelação de "A Vila", Bryce Dallas Howard, e o resto do elenco é uma constelação: Willem Dafoe, John C. Reilly, Lauren Bacall, Danny Glover, Chloe Sevigny, Stellan Skarsgard, Jeremy Davies...
6 - A History of Violence, de David Cronenberg
Baseado numa novela gráfica, conta com as interpretações de William Hurt, Viggo Mortensen e Ed Harris. A fotografia é de Peter Suschitzky e a música de Howard Shore, mas é a assinatura de Cronenberg que faz esperar mais uma experiência alucinante.
7 - King Kong, de Peter Jackson
O remake do famosíssimo filme de 1933 pelo autor da fantástica saga "O Senhor dos Anéis". A equipa técnico-artística é praticamente a mesma, à excepção dos actores: Naomi Watts, Jack Black, Adrien Brody e Andy Serkis (sim, o Gollum). Com um orçamento superior aos 100 milhões de dólares, é grande a curiosidade de ver uma versão nova de um clássico que é simultaneamente "o filme seguinte" de Jackson-para-sempre-marcado-pela-trilogia-do-anel.
8 - The Brothers Grimm, de Terry Gilliam
Aventura ficcional baseada nos famosos irmãos colectores de fábulas que se imortalizaram no imaginário colectivo. Parece ser óptimo material para o criativo (mas desigual) membro dos Monty Python. Filmado em Praga, com argumento de Ehren Kruger, conta no seu elenco com Matt Damon, Heath Ledger, Peter Stormare, Jonathan Pryce e Monica Bellucci. Estranho é a sua estreia americana ter tido sucessivos adiamentos...
9 - Oliver Twist, de Roman Polanski
Revisitação do clássico de Charles Dickens pela maior parte da equipa responsável pelo "Pianista". Também filmado em Praga, conta com o argumento de Ronald Harwood e o protagonismo de Ben Kingsley.
10 - Batman begins, de Christopher Nolan
Os primórdios do herói alado captados pela câmara do prodígio Christopher Nolan, que também co-escreve o argumento. Christian Bale interpreta Bruce Wayne, o contrário de um "american psycho"... Engraçado era o filme ser narrado ao contrário!
1 - War of the worlds, de Steven Spielberg
Com um orçamento superior aos 120 milhões de dólares, a versão spielberguiana do clássico de H.G. Wells celebrizado pela versão radiofónica de Orson Welles promete ser um espectáculo emocionante. Tom Cruise é o protagonista, o argumento é de David Koepp e os inevitáveis John Williams (música) e Janusz Kaminski (fotografia) não faltam à chamada. Com o luxo destes ingredientes, nada pode correr mal...
2 - The Aviator, de Martin Scorsese
O pioneiro da aviação e cineasta Howard Hughes retratado pelo mestre Scorsese. Leonardo di Caprio, Kate Beckinsale, Cate Blanchett e Alan Alda protagonizam. Argumento de John Logan e restante ficha técnica de luxo (Thelma Schoonmaker, Robert Richardson, Howard Shore, Dante Ferreti...).
3 - Charlie and the chocolate factory, de Tim Burton
A partir de um livro de Roald Dahl, o mago Tim Burton mostra a história de Willy Woncka (Johnny Depp), dono de um império de chocolate. Música de Danny Elfman e fotografia de Phillipe Rousselot. O prognóstico afigura-se delicioso...
4 - The New World, de Terrence Malick
A colisão de culturas entre os exploradores europeus e os nativos americanos na América do séc. XVII. Um novo filme de Terrence Malick não é privilégio frequente, há que aproveitar. Protagonizam Colin Farrell, Christopher Plummer, Christian Bale e David Thewlis. Fotografia de Emmanuel Lubezki.
5 - Manderlay, de Lars Von Trier
Segunda parte da trilogia USA que se iniciou com o impressionante "Dogville". Nicole Kidman foi substituída pela revelação de "A Vila", Bryce Dallas Howard, e o resto do elenco é uma constelação: Willem Dafoe, John C. Reilly, Lauren Bacall, Danny Glover, Chloe Sevigny, Stellan Skarsgard, Jeremy Davies...
6 - A History of Violence, de David Cronenberg
Baseado numa novela gráfica, conta com as interpretações de William Hurt, Viggo Mortensen e Ed Harris. A fotografia é de Peter Suschitzky e a música de Howard Shore, mas é a assinatura de Cronenberg que faz esperar mais uma experiência alucinante.
7 - King Kong, de Peter Jackson
O remake do famosíssimo filme de 1933 pelo autor da fantástica saga "O Senhor dos Anéis". A equipa técnico-artística é praticamente a mesma, à excepção dos actores: Naomi Watts, Jack Black, Adrien Brody e Andy Serkis (sim, o Gollum). Com um orçamento superior aos 100 milhões de dólares, é grande a curiosidade de ver uma versão nova de um clássico que é simultaneamente "o filme seguinte" de Jackson-para-sempre-marcado-pela-trilogia-do-anel.
8 - The Brothers Grimm, de Terry Gilliam
Aventura ficcional baseada nos famosos irmãos colectores de fábulas que se imortalizaram no imaginário colectivo. Parece ser óptimo material para o criativo (mas desigual) membro dos Monty Python. Filmado em Praga, com argumento de Ehren Kruger, conta no seu elenco com Matt Damon, Heath Ledger, Peter Stormare, Jonathan Pryce e Monica Bellucci. Estranho é a sua estreia americana ter tido sucessivos adiamentos...
9 - Oliver Twist, de Roman Polanski
Revisitação do clássico de Charles Dickens pela maior parte da equipa responsável pelo "Pianista". Também filmado em Praga, conta com o argumento de Ronald Harwood e o protagonismo de Ben Kingsley.
10 - Batman begins, de Christopher Nolan
Os primórdios do herói alado captados pela câmara do prodígio Christopher Nolan, que também co-escreve o argumento. Christian Bale interpreta Bruce Wayne, o contrário de um "american psycho"... Engraçado era o filme ser narrado ao contrário!
10 de dezembro de 2004
"Misteriosa Obsessão" (The Forgotten, 2004), de Joseph Ruben
E se de repente só nós tivéssemos memórias de uma determinada pessoa - por exemplo, do nosso filho? E se mais ninguém se lembrasse dela, nem as pessoas que connosco partilharam momentos em conjunto? Em síntese, se nos dissessem que as memórias que temos do nosso filho foram inventadas e ele nunca existira?
É esse o (intrigante) ponto de partida deste thriller sobrenatural que coloca em campo os mecanismos que compõem a memória e, neste caso, a sua relação com os sentimentos. Julianne Moore faz com o seu talento habitual o papel de mãe que não quer esquecer o filho que todos querem que ela esqueça. Ela e esta ideia da memória enquanto alicerce da identidade são o que de melhor o filme tem, pois no restante não consegue descolar do convencional neste tipo de narrativas, acabando por resvalar para terrenos contíguos aos da "Teoria da Conspiração", de Richard Donner. Alfre Woodward também tem uma presença carismática, até que... enfim, só visto!
Um entretenimento médio que pode ser o ponto de partida para conversas interessantes, mas não entusiasma pela inventividade dos materiais fílmicos.
É esse o (intrigante) ponto de partida deste thriller sobrenatural que coloca em campo os mecanismos que compõem a memória e, neste caso, a sua relação com os sentimentos. Julianne Moore faz com o seu talento habitual o papel de mãe que não quer esquecer o filho que todos querem que ela esqueça. Ela e esta ideia da memória enquanto alicerce da identidade são o que de melhor o filme tem, pois no restante não consegue descolar do convencional neste tipo de narrativas, acabando por resvalar para terrenos contíguos aos da "Teoria da Conspiração", de Richard Donner. Alfre Woodward também tem uma presença carismática, até que... enfim, só visto!
Um entretenimento médio que pode ser o ponto de partida para conversas interessantes, mas não entusiasma pela inventividade dos materiais fílmicos.
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