22 de dezembro de 2004

"Alexandre, o grande" (Alexander, 2004), de Oliver Stone

Domingo, 14h55, cinemas Saldanha. Desloco-me às bilheteiras para comprar o ingresso para o último filme de Oliver Stone (arrasado pela maioria dos críticos e público portugueses e norte-americanos). Com as expectativas desinsufladas, constato haver apenas bilhetes para a primeira fila. Seria verdade que só na primeira fila este Alexandre se tornaria realmente grande? Ver para crer...
E o que vi? Um excelente filme que retrata um mito com toda a sua amálgama de incidências, das tortuosas relações familiares às desvairadas ambições militares, das complexas ligações amorosas às visionárias perspectivas sobre o mundo e os povos. A história de um homem maior que a vida, contada com desequilíbrios e excessos - é verdade - mas talvez por isso mesmo, decorrente de uma vontade quase febril de abarcar a torrente de histórias que à sua volta se criaram.
Num filme com este tema era impossível evitar a polémica. Quando os registos históricos que existem são muitas vezes contraditórios, dificilmente se poderia escapar a uma concepção necessariamente subjectiva de tamanha personagem, mais devedora da lenda que da realidade. Ora, esta dimensão megalómana (Megalexandros) é mostrada de forma visceral e caótica, mas apaixonante. Alexandre é corajoso, utópico, generoso, impiedoso, determinado, sensível, etc. Tudo em simultâneo. Resulta daí um ser complexo a que não é alheia a sua educação, lutando tanto contra os seus fantasmas quanto contra os inimigos. O mais interessante é sempre a forma ambígua como a sua personalidade é retratada, fugindo a tentações unidimensionais. Claro que o elenco é muito criticado, mas na minha opinião todos estão à altura dos seus papéis, incluindo Colin Farrell (um papel muito difícil), Anthony Hopkins (não me pareceu nada maçador, desculpem-me), Val Kilmer e Angelina Jolie. Quanto à última, é evidente que não disfarça a exígua diferença de idades em relação ao protagonista, mas isso até se esquece rapidamente tal é a sua beleza enfeitiçante e perversa retratando uma mãe possessiva com alma de bruxa (que importa o sotaque?).
Se as personagens e seus intérpretes asseguram a densidade dramática ao empreendimento, a concepção visual (e sonora) não desilude: que outro epíteto senão belíssimas merecem as imagens da Babilónia, Alexandria, batalha de Gaugamela ou a sequência do duelo de Alexandre e o seu Bucéfalo contra um elefante?
Um épico poderoso, mal amado, ousado e desequilibrado, que preferiu dar mais visibilidade ao íntimo do que ao público. Oliver Stone teve que aguentar com as críticas, mas o que é certo é que chegou a tempo de integrar a minha lista dos melhores filmes do ano. Façam-lhe justiça: vão ver!

1 comentário:

Roberto Simões disse...

Cheguei ao blog por meio deste artigo, via cinema2000.

"Um épico poderoso, mal amado, ousado" nem mais.

Muito mal amado.

Cumps.

Roberto F. A. Simões
CINEROAD