O que aconteceria se um andróide dotado de inteligência artificial tomasse consciência? Não é uma novidade nos caminhos da ficção, palavrosa ou imagética, mas o pressuposto da estreia na realização de Alex Garland traz resultados francamente interessantes. Passado num ambiente asséptico, «Ex-Machina» triunfa ao escolher um olhar enxuto que encaixa muito bem no fino suspense que embrulha uma reflexão sobre o ser humano, sobre o desejo e sobre a liberdade. Qual é o oposto de comédia romântica? Talvez esta ficção científica anti-romântica. 7,5/10
5 de junho de 2015
Ex-Machina (2015), de Alex Garland
O que aconteceria se um andróide dotado de inteligência artificial tomasse consciência? Não é uma novidade nos caminhos da ficção, palavrosa ou imagética, mas o pressuposto da estreia na realização de Alex Garland traz resultados francamente interessantes. Passado num ambiente asséptico, «Ex-Machina» triunfa ao escolher um olhar enxuto que encaixa muito bem no fino suspense que embrulha uma reflexão sobre o ser humano, sobre o desejo e sobre a liberdade. Qual é o oposto de comédia romântica? Talvez esta ficção científica anti-romântica. 7,5/10
Tomorrowland - Terra do Amanhã (2015), de Brad Bird
Bons efeitos especiais? Sim. Mensagem optimista-ecologista-didáctica-idealista? Confere. Cenas de acção e partes humorísticas? Iá. Mas, no fundo, «Tomorrowland» é uma espécie de «Spy Kids», sem verdadeiro interesse para o público adulto. Coisas que valem a pena: os primeiros 10 minutos e a loja Blast from the Past, além da boa banda sonora de Michael Giacchino. Fica-se com a sensação de que seria em animação que o filme resultaria realmente. Foi pena, porque Brad Bird é o autor de «The Incredibles» e «Ratatui». Ai aquele final: parecia mesmo um anúncio da United Colors of Benetton. 6/10
19 de fevereiro de 2015
Relatos Selvagens (Relatos Salvajes, 2014), de Damián Szifron
Um prólogo e mais cinco histórias de vingança raivosa, dementes com insistência, cheiinhas de humor negro. Seja numa banal disputa na estrada, nos meandros de uma empresa municipal de reboques, ou em plena boda, assistimos ao hilariante desfile das emoções humanas e das possibilidades que a ficção dá para melhor patentear o real.
É surpreendente, pois não estamos habituados a levar com tanta corrosão nos olhos e, ainda por cima, nos rirmos disso bem alto. O Óscar de Melhor Filme Estrangeiro espreita, e se o levar para casa é muito bem feito. Deliciem-se com esta versão sul-americana e envenenada das saudosas «Amazing Stories» que Spielberg criou nos anos 80.
8 de fevereiro de 2015
Whiplash (2014), de Damien Chazelle
There are no two words in the English language more harmful than «good job». «Whiplash» é um poderoso filme sobre a importância de ter alguém que nos leve aos limites. Ah, e como o cabrão do professor leva aos limites o jovem mas determinado Andrew, cujo sonho é ser o novo Charlie Parker... E como é intenso ver alguém a transcender-se para deixar a sua marca. Os últimos 10 minutos, com Andrew a regressar ao palco e a tocar até ao genérico final, é uma das melhores sequências de boxe da história do cinema, mas aqui é uma bateria que está entre os dois lutadores. E apesar de haver um vencedor, acho que os dois ficaram KO.
31 de dezembro de 2014
Filmes mais aguardados de 2015
1 - Silence, de Martin Scorsese
2 - Flashmob, de Michael Haneke
3 - Absolutely Anything, de Terry Jones
4 - La Blessure, de Abdellatif Kechiche
5 - The Walk, de Robert Zemeckis
6 - The Lobster, de Yorgos Lanthimos
7 - Jupiter Ascending, dos irmãos Wachowski
8 - Tomorrowland, de Brad Bird
9 - The Secret Scripture, de Jim Sheridan
10 - Crimson Peak, de Guillermo del Toro
Ainda falta o «Birdman» (estreia para a semana), o «Inherent Vice», do PT Anderson, e o «Knight of Cups», do Terrence Malick.
Mas há bom «material», incluindo os últimos de Scorsese, Haneke e Kechiche, uma comédia dos Monty Python com o último papel vocal de Robin Williams e o projecto mais marado do ano, do grego Yorgos Lanthimos, com um excelente elenco internacional.
27 de dezembro de 2014
Melhores filmes de 2014
A lista anual, liderada pelo emocionante Interstellar e seguida de grandes filmes de mestres Scorsese e Fincher. Não esquecendo o estupendo Boyhood, um filme que é como a vida, precioso.
1 - Interstellar, de Christopher Nolan
2 - O Lobo de Wall Street, de Martin Scorsese
3 - Em Parte Incerta, de David Fincher
4 - Boyhood - Momentos de uma Vida, de Richard Linklater
5 - 12 Anos Escravo, de Steve McQueen
6 - Locke, de Steven Knight
7 - Golpada Americana, de David O. Russell
8 - Grand Budapest Hotel, de Wes Anderson
9 - Her - Uma História de Amor, de Spike Jonze
10 - Debaixo da Pele, de Jonathan Glazer
8 de dezembro de 2014
Interstellar (2014), de Christopher Nolan
E mesmo no final consigo ver o filme do ano. «Interstellar» é supostamente um filme de ficção científica, mas isso serve apenas para dizer que nos fala de outros mundos, outras dimensões, outros seres. Mas, ao fim e ao cabo, ficamos a sabê-lo, não seremos nós tudo isso? Há muito de fascinante do ponto de vista visual, sonoro e narrativo em «Interstellar». E o cinema é a arte que mais nos transporta para outro lugar (mesmo que esse lugar esteja dentro de nós). Magia pura, é o que quero dizer.
Contudo, é pelas emoções que o filme nos arrebata. Trata-se de um compêndio sobre a condição humana (assim são quase sempre as obras-primas): o ímpeto pela descoberta, a atracção pelo desconhecido, a obrigação de proteger os que amamos, a dicotomia entre a razão e o coração, o poder da intuição, a inexorável passagem do tempo, o pesado sentir. E vêmo-nos ao espelho. Desfilam na tela, como na vida, a coragem, a decepção, a angústia, a excitação, a traição, a mentira, a promessa, a fé, o desespero, a compaixão. E o amor, sempre o amor.
«Interstellar» é um milagre. Tal como nós.
14 de novembro de 2014
Boyhood - Momentos de uma Vida (2014), de Richard Linklater
Invulgar na sua concepção, já que foi filmado ao longo de 12 anos, «Boyhood» é um filme extraordinário que aproxima o cinema da vida tanto quanto é possível. Seguimos a infância e a adolescência de Mason, dos 6 aos 18 anos, e acompanhamos igualmente a sua família
numa autêntica odisseia do cidadão comum. Escrito e filmado com uma sensibilidade invulgar, «Boyhood» é feito das dores do crescimento, das cumplicidades fraternais, das complexidades da vida conjugal, do humor do quotidiano e das perplexidades recorrentes na vida.
Um filme raro, em que as fronteiras entre realidade e ficção são diluídas até à quintessência da arte. E a cena final é absolutamente deslumbrante. Traduz, atrevo-me a dizer, o sentido da vida.
2 de outubro de 2014
Em Parte Incerta (Gone Girl, 2014), de David Fincher
«Em Parte Incerta» é um filme sobre muitas coisas: a realidade, a ficção, a vida conjugal, o quarto poder, a imaginação. Mas é acima de tudo uma grande peça de entretenimento,
de uma inteligência sem limites, não obstante o seu implacável cinismo e, mais do que isso, anti-romantismo. É um hino ao artifício e às possibilidades infinitas que uma história encerra.
Gillian Flynn criou um fabuloso guião que adapta o seu romance homónimo, encontrando em David Fincher o parceiro ideal para traduzir em imagens a sua história (o Óscar
de Argumento Adaptado espreita, sim). Merece ainda destaque a excelente banda sonora de Trent Reznor e Atticus Ross, mais uma colaboração com David Fincher, após «Rede Social» e «Os Homens Que Odeiam as Mulheres». Sem hesitação, um dos grandes filmes do ano.
1 de abril de 2014
A Vida de Adèle (La Vie D'Adèle, 2013), de Abdellatif Kechiche
À flor da pele rima com Adèle e podia ser um título alternativo para este excelente naco de cinema servido pelo tunisino responsável pelo também suculento «O Segredo de um Cuscuz». A protagonista é admirável e fascinante é a forma como mergulhamos na sua vida através desta história. O azul é aqui, de facto, a cor mais quente, desde logo pela intensidade da paixão da dupla feminina, responsável por um punhado de sequências escaldantes. Vibrante, belo, capaz de nos ligar aos insondáveis mistérios do amor, aos cambiantes do desejo e à inelutável passagem do tempo. Assim é este filme imperdível.
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