15 de janeiro de 2010

9 - «Dancer in the Dark» (2000), de Lars Von Trier


A mistura do melodrama mais pesado com o musical mais inesperado resulta num hino ao cinema e numa sinfonia da alma. O amor, a fé e o sacrifício conjugam-se numa metafísica paradoxalmente contrastante com a dimensão demasiado humana e imperfeita da protagonista. A fabulosa Björk/Selma é, sem dúvida, a personagem que aglutina todo o filme, não deixando espaço para mais ninguém. De tal forma, que a sua estreia na representação lhe deixou marcas profundas. O hiperbólico calvário de Selma permite que as suas imaginadas coreografias e as deliciosas músicas resultem para o espectador como ouvir o som do mar num deserto. São interlúdios deslocados que traduzem musical e pictoricamente a grande alma da protagonista. O aparente equilíbrio precário entre a cinzenta realidade, a caminhar inapelavelmente para a escuridão, e a garrida festa do seu mundo interior, contribui para a magnífica materialização cinematográfica que, no fundo, é também uma bela metáfora da sétima arte: ficamos cegos para a realidade para passarmos a ver bem melhor os sonhos. O final é um dos mais incómodos de que há memória. Comovente, memorável, arrebatador.

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