29 de janeiro de 2010

1 - «A.I. - Inteligência Artificial» (2001), de Steven Spielberg


Apesar de incatalogável, digamos estar na presença de um conto de fadas futurista, que pode ser também visto como uma odisseia às dúvidas humanas mais ancestrais. Por esta extraordinária história e assombrosos ambientes passam as célebres perguntas: Quem somos? De onde viemos? Para onde vamos?
O argumento constrói uma grande metáfora sobre o Homem, a partir do percurso de uma sua criação (um ser mecânico programado para amar) em direcção ao sentido da sua existência.
É difícil destacar seja o que for num contexto de tamanha criatividade. Consequência natural de um projecto amadurecido que conjuga a genialidade de quem o desenvolveu (Kubrick) com a de quem o materializou (Spielberg) com a ajuda de uma equipa técnica fantástica, com destaque para a cenografia, absolutamente mágica (dos mais gigantescos cenários ao mais pequeno objecto). Haley Joel Osment e Jude Law são superlativos nas suas inesquecíveis personagens, mas é bom não esquecer o óptimo papel de Frances O'Connor. Relativamente à questão incontornável do contributo de Kubrick para o filme e do seu peso relativo, atrevo-me a dizer que se deu aqui uma imbricação perfeita de universos criativos muito diferentes. De facto, Spielberg conseguiu fazer um filme genuinamente seu, que é, simultaneamente, uma homenagem póstuma incrível ao seu amigo Kubrick. Estão lá elementos nítidos de «2001», «Shinning» ou «Laranja Mecânica»...
Embora ache que o filme teria um final perfeito num "determinado plano subaquático", não deixa de ser perfeito por depois desse plano nos dar um saboroso epílogo que funciona quase como um extra de luxo. O prazer imenso da fruição desta obra prolonga-se através das questões que nos coloca e que perduram na nossa mente tanto quanto as suas imagens na nossa memória. Na minha modesta opinião, o filme da década e um dos melhores de sempre.

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