21 de dezembro de 2005

«Oliver Twist» (2005), de Roman Polanski


É mais uma incursão de Roman Polanski por terrenos clássicos. Depois do sucesso de «O Pianista» (sobre a Segunda Guerra Mundial e o nazismo), agora lança-se (com muito menos notoriedade, especialmente nos EUA) sobre o popular romance de Charles Dickens, já amplamente adaptado ao cinema.
A minha sensação é semelhante à do filme anterior: muito boa reconstituição de época, competência artística e técnica elevadíssima, mas falta um golpe de asa, um motivo para subir mais alto na nossa consideração enquanto experiência de cinema.
Já se sabe, a história sofrida de Dickens é um clássico que sabe sempre bem revisitar. Há nela matéria humana e tecido ficcional para mergulhar com interesse nas suas vicissitudes. Para além disso, o filme tem um excelente trabalho de casting, a fotografia é excelente, assim como a recriação dos meandros mais sombrios da Londres do passado. Ben Kingsley tem um magnífico papel de composição e Barney Clark é um Oliver credível, quase em underacting, embora haja momentos em que duvidamos da sua excessiva bondade…
Esta versão não acrescenta nada de novo em relação a versões anteriores como a de David Lean (de 1948). No entanto, vê-se com grande prazer, especialmente por ter sido fabricado com todo o detalhe e por contar uma história que é intemporal.

7 de dezembro de 2005

"Grizzly Man" (2005), de Werner Herzog


Um documentário fascinante que começa por parecer um estudo sobre os ursos e acaba num insólito retrato humano de um ser lunático.
O mérito reparte-se pela apropriação feita pelo alemão Werner Herzog (sempre fascinado por personagens de um certo cariz marginal) do material filmado por Timothy Treadwell, o verdadeiro protagonista deste «one-man show». Dá-se então uma interessante fusão entre o programa audiovisual criado por Treadwell a partir das suas saídas de campo para conviver com os ursos (durante 13 Verões) e o inquérito itinerante levado a cabo por Herzog para tentar saber quem foi aquele homem.
A questão central é mesmo essa: o que leva um homem a ter o comportamento absurdo de tentar viver com os ursos como se eles fossem de peluche? Vamos tendo algumas pistas: um passado feito de alcoolismo, relações amorosas difíceis, uma desilusão profissional que remete para a série «Cheers»… e, claro, uma paixão precoce por ursos. Dá ideia de que Timothy era alguém perturbado e sem rumo que, a partir do momento em que descobriu esta insólita actividade, encontrou a catarse e o sentido da vida.
Para além das belas imagens dos ursos (e das raposas) em estado selvagem, é um verdadeiro espectáculo assistir à performance de alguém que oscila entre os momentos hilariantes (alguém que quer salvar os ursos quando eles estão protegidos numa reserva natural tem de ser cómico…) e os momentos de desespero e revolta. Alguém que teve um fim trágico, mas pelo qual sempre esperou (e até talvez tenha desejado).
A vida dele deu um (grande) filme e, como é habitual, a realidade consegue sempre ser mais criativa do que as mentes dos argumentistas. O homem que queria ser urso ou como viver abraçando a morte.