7 de dezembro de 2005
"Grizzly Man" (2005), de Werner Herzog
Um documentário fascinante que começa por parecer um estudo sobre os ursos e acaba num insólito retrato humano de um ser lunático.
O mérito reparte-se pela apropriação feita pelo alemão Werner Herzog (sempre fascinado por personagens de um certo cariz marginal) do material filmado por Timothy Treadwell, o verdadeiro protagonista deste «one-man show». Dá-se então uma interessante fusão entre o programa audiovisual criado por Treadwell a partir das suas saídas de campo para conviver com os ursos (durante 13 Verões) e o inquérito itinerante levado a cabo por Herzog para tentar saber quem foi aquele homem.
A questão central é mesmo essa: o que leva um homem a ter o comportamento absurdo de tentar viver com os ursos como se eles fossem de peluche? Vamos tendo algumas pistas: um passado feito de alcoolismo, relações amorosas difíceis, uma desilusão profissional que remete para a série «Cheers»… e, claro, uma paixão precoce por ursos. Dá ideia de que Timothy era alguém perturbado e sem rumo que, a partir do momento em que descobriu esta insólita actividade, encontrou a catarse e o sentido da vida.
Para além das belas imagens dos ursos (e das raposas) em estado selvagem, é um verdadeiro espectáculo assistir à performance de alguém que oscila entre os momentos hilariantes (alguém que quer salvar os ursos quando eles estão protegidos numa reserva natural tem de ser cómico…) e os momentos de desespero e revolta. Alguém que teve um fim trágico, mas pelo qual sempre esperou (e até talvez tenha desejado).
A vida dele deu um (grande) filme e, como é habitual, a realidade consegue sempre ser mais criativa do que as mentes dos argumentistas. O homem que queria ser urso ou como viver abraçando a morte.
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2 comentários:
Confesso que estava bastante ancioso por ver este filme e acabou por defraudar um pouco em alguns aspectos. O que menos gostei foram as partes das entrevistas que pareceram, por parte dos entrevistados, demasiado "mecanizadas". Achei mesmo ridícula a parte em que a companheira de fundação da Grizzly People recebe o relógio do Treadwell e também quando o realizador Herzog ouve a gravação audio dos ultimos momentos do casal. Pareceram-me emoções demasiado forçadas. Gostei muito das partes filmadas pelo Timothy mas também acho que ele foi longe demais. Os ácidos devem ter sido muitos...
Ele foi longe demais, mas o admirável é ver que a sua história é real. É que parece apenas possível na mente de algum argumentista mais visionário ou perturbado. Mas não, é real, por isso vemos o arco enorme que nos liga enquanto seres humanos, do mais louco (Treadwell) ao mais comedido.
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