
Inesperado sucesso de bilheteira (especialmente nos EUA, onde fez uma carreira fenomenal), este é um filme terno que celebra a vida numa idiossincrasia a que não estamos muito habituados no cinema. Documentários sobre a vida selvagem são típicos da televisão, mas vale a pena ver este num ecrã gigante, pois o realizador-cientista Luc Jacquet monta uma narrativa que visa contar uma história particular, devidamente antropomorfizada (palavra incontornável em todos os textos sobre este filme) e adornada com uma banda-sonora conseguida.
Para além da beleza intrínseca destas impagáveis criaturas (já agora, um dos meus animais preferidos), e de algumas sequências deslumbrantes por si só, o melhor do filme é mesmo a forma como nos coloca na pele daqueles animais sempre no limiar da sobrevivência. É sabido que não devemos analisar os comportamentos animais à luz das regras humanas, mas é irresistível fazê-lo um bocadinho, e é isso desde logo o que o filme promove com a narração off. Talvez por isso, também, tenha servido como panfleto político de determinados ideais nos EUA...
Questão que se impõe: é tão ímpar ou extraordinário que mereça o sucesso global que tem alcançado? Não. Vale a pena ver? Sem dúvida.
Uma última nota para registar e saudar a crescente visibilidade que o género documental tem vindo a ter na exibição comercial portuguesa, ainda que muitas vezes resulte de contaminações várias com aquilo que se chama tradicionalmente de cinema ficcional (mas essa é uma questão recorrente na catalogação por géneros ao longo do tempo).