Uma belíssima surpresa. Baseado numa peça teatral que tenta mostrar como o autor do clássico Peter Pan (J. M. Barrie) encarnava o espírito da famosa personagem infantil, o filme de Marc Forster é de uma tal justeza de meios e de uma tal intensidade dramática que proporciona momentos de verdadeira magia. Sem dúvida que convoca o imaginário de Tim Burton e, muito concretamente, o de "Big Fish", possuindo evidentes semelhanças a nível de ambiências e de temas (e também no prazer que confere ao espectador). Nem por acaso, é protagonizado pelo actor-fetiche de Burton - que não entra em "Big Fish" -, o senhor Johnny Depp numa interpretação memorável que quase faz esquecer os outros méritos do filme. Verdade seja dita, este é um dos seus maiores papéis de sempre - e logo ele que não tem poucos papéis de relevo. Acresce que o tom bizarro e saudavelmente demente da sua personagem acrescenta-a à fantástica galeria que inclui, entre outros, Eduardo mãos de tesoura, Ed Wood ou Ichabod Crane (de "Sleepy Hollow"). Os outros actores têm também óptimas prestações, com destaque para Kate Winslet (muito convincente como mãe) e o pequeno intérprete de Peter (o seu rosto triste é de uma expressividade a toda a prova).
O filme fala da imaginação como motor de vida e utiliza a fantasia não como materialização escapista, mas antes como lugar acessível a partir da realidade que somos capazes de criar. Apesar do maravilhamento que o teor fantasista convoca, o filme não contorna as dores do crescimento nem a angústia das perdas irreparáveis. Antes concilia a diversão com a tragédia, permitindo que a primeira não iluda a segunda. Comoção garantida, cinema de primeira.
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