É importante começar por dizer que o filme mais polémico da actualidade é altamente aconselhável, quanto mais não seja enquanto documento (ainda que ficcionado) da realidade histórica. Independente das qualidades estritamente cinematográficas, que as tem (embora não seja um filme formalmente original nem fulgurantemente clássico), «A Queda» tem o mérito incontornável e fascinante de nos colocar dentro do bunker onde se desenrolaram os últimos dias da personagem mais odiada e diabólica do século XX. De facto, Hitler é-nos mostrado como um homem, e é bom lembrar-nos disso, já que a história o tem figurado como alguém exterior à própria condição humana. A sua personalidade é aqui revelada com mais acuidade e atenção do que é habitual, mas ainda assim permanece um mistério pela sua estratosférica arrogância e crueldade. Bruno Ganz é estupendo a compor o retrato desta terrível personalidade cujos actos e dissertações se limitariam ao risível se não tivessem sido responsáveis por uma onda inexplicável de terror e arbitrariedade. Se não conseguimos evitar a lembrança do genial Chaplin em «O Grande Ditador» aquando dos acessos de raiva do Fuhrer, também sentimos genuinamente que algumas das suas ideias xenófobas e aberrantes do ponto de vista moral se encontram latentes em muitas pessoas (e bem presentes em algumas) nos nossos dias.
Este filme permite constatar muitas coisas interessantes. Por exemplo, que o regime nazi, pelo menos nos seus últimos tempos, assentava muito na devoção e lealdade (com excepções, claro) com que a maior parte do aparelho de estado servia Hitler. De outra forma, este teria sido pura e simplesmente deposto e desautorizado, tais eram as ordens ridículas e as estratégias dementes que proferia. Outra coisa era o magnestismo de Hitler, também causa do factor anterior, que fazia com que muitos inocentes o seguissem sem interrogação (veja-se a sua secretária, nas memórias da qual se baseia em parte o filme).
Em suma, é um filme obrigatório para discutir história e uma possibilidade única de sermos colocados num cenário onde se desenrolaram acontecimentos decisivos na história da nossa civilização. É importante não esquecer e estar sempre atento.
12 de maio de 2005
5 de maio de 2005
"Birth – O Mistério" (2004), de Jonathan Glazer
Filme sobre o tema mais prolífico do cinema e das artes em geral – os mistérios do amor – «Birth» convoca uma grande actriz para corporizar alguém que vive um grande amor e que, mesmo quando é colocada à prova num teste radical, passa com distinção e revela a sua fidelidade.
O problema mais visível deste filme é a sua pouca emoção, pois o argumento cativa bastante, nomeadamente quando aplica um excelente desvio do caminho seguido até aí. Torna-se pouco relevante se o miúdo é ou não a encarnação do falecido marido de Anna (Nicole Kidman). Independentemente dos contornos misteriosos dos factos narrados, o verdadeiro mistério é o do amor de Anna por Sean, para mais quando a relação que mantinham, sabêmo-lo a dada altura, não era o idílio que imagináramos. Jonathan Glazer não é Kubrick, a propósito das comparações feitas sobre a «frieza» da realização, mas é um cineasta a ter em atenção para o futuro.
O problema mais visível deste filme é a sua pouca emoção, pois o argumento cativa bastante, nomeadamente quando aplica um excelente desvio do caminho seguido até aí. Torna-se pouco relevante se o miúdo é ou não a encarnação do falecido marido de Anna (Nicole Kidman). Independentemente dos contornos misteriosos dos factos narrados, o verdadeiro mistério é o do amor de Anna por Sean, para mais quando a relação que mantinham, sabêmo-lo a dada altura, não era o idílio que imagináramos. Jonathan Glazer não é Kubrick, a propósito das comparações feitas sobre a «frieza» da realização, mas é um cineasta a ter em atenção para o futuro.
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